quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Sinal entrevista Daniel Azenha, o novo presidente da AAC



Nome completo: Daniel José Conceição Azenha
Data de nascimento: 10/03/1995
Naturalidade: portuguesa (nasceu no Luxemburgo)
Curso que frequenta: Geografia humana, Ordenamento e Planeamento do Território; está a preparar a tese do mestrado
Filme preferido: Amigos improváveis
Animal de estimação: cão
Passatempos: jogar futebol (agora menos)
Um sonho: ser feliz
Futura profissão: ser um geógrafo de sucesso

Sinal – Sempre te interessaste pela liderança académica? De onde vem esse gosto?
Daniel Azenha – Vou ser muito sincero, a resposta é não. Quando cheguei à Universidade, o que queria era aproveitar tudo o que esta tinha para me dar. Ter boas notas e ir às aulas é muito importante, mas a AAC tem muitas coisas para nos oferecer: o desporto, a cultura (há 26 secções desportivas e 14 culturais) e ainda 26 núcleos de estudantes. Comecei por entrar numa lista, como colaborador, essa lista ganhou e estive envolvido em várias tarefas. A primeira, que nunca mais esquecerei, foi estar num arraial social a angariar fundos para as residências, a servir finos e pão. No meu segundo ano, fui convidado para a receção ao caloiro e para integrar o núcleo de estudantes da Faculdade de Letras. Foi tudo muito simples e muito natural: fui trabalhando, fui aprendendo mais e fui sendo convidado. Por isso, a resposta é não. No último ano, obviamente, fui sonhando com a presidência. Fui vice durante dois anos e neste último ano sabia que podia ter essa oportunidade. A verdade é que entrei para a Universidade com um espírito super aberto, com vontade de aprender e de contactar com muitas pessoas.

S. – Como te sentiste quando foste eleito?
D. A. – Muito feliz! Foi uma eleição difícil, disputada por dois candidatos. Quando vencemos foi algo de extraordinário. Na primeira volta, votaram 9 mil estudantes num universo de cerca de 14 mil. Geralmente votam cinco, seis mil no máximo.

S. – Que projetos pretendes concretizar durante o teu mandato?
D. A. –Foi o que expliquei há pouco. A AAC é composta essencialmente pelas secções desportivas, culturais e pelos nossos núcleos de estudantes, cada um com a sua própria direcção. Obviamente, nós somos a entidade máxima, a direção geral. Temos vários projetos. A associação tem trabalhado muito na integração dos estudantes no ensino superior. Interessa não só o momento em que já estamos no ensino superior mas também o pré-universitário. É importante que o estudante conheça os constrangimentos financeiros, que saiba se a ação social lhe permitirá manter-se. Não sei se têm a noção de que há muitos colegas que, infelizmente, ainda abandonam o ensino superior. Por outro lado, há também muitos outros que não frequentam o ensino superior devido às barreiras sociais, nomeadamente as propinas. Também estamos, naturalmente, preocupados com a área pedagógica. Como sabem, o processo de Bolonha veio mudar o ensino superior, mas só teoricamente é que deixámos de ter um ensino centrado no docente e começámos a ter um ensino centrado no estudante. Nós temos de ter em conta cada estudante, olhar para ele e ver quem é, para orientar o seu próprio estudo. Temos ainda outras sugestões, nomeadamente a internacionalização, por exemplo, o programa Erasmus. Continua a ser um programa muito elitista, porque é caríssimo. Temos ainda a questão do pós-universitário. Se existem muitas dificuldades em entrar e permanecer no ensino superior, há a preocupação com a entrada do recém-licenciado no mercado de trabalho. Não basta termos um emprego! É importante garantir uma carreira, e estabilidade. A nível cultural, temos muitas secções, somos um agente cultural. Mas sentimos por vezes que não conseguimos chegar ao estudante e à comunidade. Perdeu-se o hábito de estar próximo da Associação Académica de Coimbra. Se somos um agente cultural temos de agir como tal. Todo o estudante, todo o habitante da cidade de Coimbra tem de ter a noção das actividades culturais que a A.A.C. desenvolve, portanto é essencial que haja uma agenda cultural. Temos também a questão desportiva, somos um clube. Temos uma equipa de futebol, de andebol, de basquete… Além disso, há também o desporto universitário. Infelizmente, há ainda um grande desconhecimento das nossas secções. Muitos estudantes acabam por passar por Coimbra sem saber que podem praticar desporto. Recebemos, recentemente, os campeonatos europeus que envolveram quatro mil atletas. Queremos ser a capital do desporto universitário. Se os últimos quatro anos foram a preparação dos jogos universitários e recebemos 4 mil atletas da Europa toda, é muito importante dar continuidade a este trabalho. Estes são os nossos principais objetivos.
Em suma, somos um agente político, cultural e desportivo. A área política está centrada em três pilares, o pré, o percurso e o pós-universitário. O aspeto cultural é para nós importantíssimo e deve haver um plano desportivo.


S. – Qual a tua opinião sobre as praxes académicas?
D. A. –Eu vou dar a minha opinião pessoal. Obviamente, sou presidente de todos os estudantes, dos que fazem parte das praxes e dos que não concordam com elas. A associação representa todos os estudantes da universidade de Coimbra. Eu fui praxado, praxei e, sobretudo, fiz grandes amigos na praxe. Quando são bem-feitas, não há motivo para acabar com as praxes, mas é preciso saber fazê-las. A título de exemplo, na praxe de Coimbra, não se misturam rapazes com raparigas. Também não se pode mandar deitar no chão, rastejar, etc. Há um cuidado imenso em relação à praxe. Eu fiz os meus melhores amigos na praxe. É muito importante quando os alunos chegam a Coimbra integrarem-se e o primeiro contacto com os outros é, precisamente, através da praxe. Somos obrigados a estar com as pessoas e isso desbloqueia-nos. Uma praxe que costumamos fazer é juntarmo-nos e abraçar os turistas. Eles adoram e não há problema nenhum. Por isso, é preciso saber fazer boas praxes.

S. – E em relação a alguns excessos que se cometem durante a festa académica e o cortejo?
D. A. –De facto, aquilo não é a cultura de Coimbra. Foi algo que se foi avolumando. É uma festa e cometem-se exageros, muitos, e isto também é um conselho para os mais novos: pode passar-se por Coimbra, viver muito, mas dentro dos limites. Não somos a capital das festas. Em Lisboa, também há muitas festas, mas as faculdades estão mais dispersas. Aqui, como os polos estão muito próximos, encontramo-nos todos na Praça da República. Em todo o lado, há consumos e excessos!

S. – O que é possível fazer para melhorar a qualidade de vida do estudante universitário?
D. A. –Essa é uma pergunta para um milhão de euros! Há muito ainda para fazer. Falei-vos há pouco das condições financeiras. Entrar no ensino universitário é muito caro. A associação luta há 25 anos contra as propinas, que são uma barreira social. Ainda estamos muito longe do que deve ser uma ação social forte. A educação é um direito de todos. Muitos jovens não prosseguem os estudos por causa das propinas. Há, também, a questão das bolsas, que ainda não abrangem muitos alunos. Um outro problema reside no número insuficiente de residências universitárias que, aliás, apresentam muito pouca qualidade. Para além disso, assistimos ao encarecimento do alojamento para o estudante, em Lisboa, no Porto e em Coimbra. É urgente delinear um plano de reabilitação para a nossa cidade que pode passar pela reabilitação da Alta. Os estudantes são vigilantes naturais. Se houver uma reabilitação urbana, diminuímos drasticamente a criminalidade, há mais comércio e um maior desenvolvimento. No fundo, conseguimos inverter uma tendência negativa. A Associação está disposta a ajudar.

S. – E qual é o papel das tradicionais repúblicas?
D. A. –Os edifícios estão degradados, pois são casas arrendadas, onde não são feitas obras há muito tempo. Custa-me vê-las neste estado, porque fazem parte da história de Coimbra. Vamos comemorar os 50 anos da crise académica e as repúblicas tiveram um peso importantíssimo naquilo que foi um bocadinho a história da nossa democracia. Vamos ter de nos debruçar sobre este aspeto.

O que te leva a defender a candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura?
D. A. –Coimbra é a cidade do estudante, ora, não ter na sua candidatura o apoio do estudante não faz sentido. Por isso, na minha tomada de posse, pedi que a Associação fizesse parte desta candidatura. Já fomos contactados pela Câmara e estamos disponíveis para a apoiar. 

Consideras que os estudantes participam ativamente na vida política do país?
D. A. –Sim, claro que sim. Falámos já nos 9 mil estudantes que votaram. Falámos também há pouco de Bolonha e na transformação dos cursos. Antigamente, permanecia-se mais tempo na universidade e havia tempo para atividades extracurriculares. Atualmente, com a crise e a dificuldade de entrada no mercado de trabalho, os estudantes acabam por querer passar menos tempo na própria universidade e entrar rapidamente no mercado de trabalho. Acabam por ter menos tempo para a prática desportiva, para atividades culturais e até mesmo para a prática política. Não acho que estejam desinteressados, simplesmente estão preocupados e acabam por desligar um bocadinho.  A verdade é que quando são chamados à responsabilidade, sempre que há um momento de decisão importante, os estudantes aparecem.

S. – Sabemos que foste aluno da nossa escola. Durante quantos anos? Que recordações guardas desse tempo?
D. A. –Fui aluno da escola durante seis anos. Tenho muitas recordações dos amigos, dos funcionários, dos próprios professores (isto não é graxa, é mesmo a sério!). Tivemos sempre bons professores, acompanharam-nos bastante. Dos espaços… Há pouco, quando estava a entrar na escola, senti uma emoção. É mesmo bonito voltar aqui e recordar. Como vivo em Quiaios, na Murtinheira, passei muito tempo na escola e levo sobretudo daqui grandes amizades.

S. – Podes deixar uma mensagem para os alunos da Escola Dr. Joaquim de Carvalho?
D. A. –Que se sintam muito orgulhosos da escola que têm. A mim, enquanto estudante, ajudou-me bastante. Nota-se claramente que os estudantes que saem da Joaquim de Carvalho são muito bons, bem preparados e quero desejar-vos as maiores felicidades. A Associação Académica de Coimbra está disponível para vos ajudar no que precisarem e eu também. Tenho muito gosto em vos receber em Coimbra. Deixo-vos uma sugestão: podem realizar uma feira de cursos, aqui na escola. Os estudantes vêm à escola, falam convosco, trazem “flyers”, explicam-vos os cursos, falam-vos sobre as dificuldades, esclarecem-vos sobre o alojamento, etc.

Laura Santos, 7ºD
João Levi, 7ºC
Joana Ferreira, 8ºC
Gabriela Santos, 10ºA
Maria Inês Sousa, 10ºA
Mafalda Mateus, 10ºD


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