quarta-feira, 15 de maio de 2013

Aluna da Escola arrebata 1º e 2º prémios em Prémio Literário


Mariana Catarina Marques, aluna do 12º ano da Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho foi distinguida com o 1º e 2º prémios, na modalidade Poesia, na 22ª edição do Prémio Literário Cristina Torres.
Este ano, as composições poéticas  tinham como tema "A casa". Com os poemas "Saudade" e "Ilusão", revelou-se uma vez mais o talento desta promissora poetisa, que já tinha sido premiado em edições anteriores, (em 2009 e em 2012).

Os nossos parabéns à Mariana!





 Saudade
Perde-se o tempo no regresso,
Na procura de algo,
De um pouco mais de nada.
Que voltem, (eu peço…)
Esses pedaços de alma desfigurada.

Matem este silêncio!


(Peço-vos, por favor…)
Que se enforque o violino distante
Com quem a luz fantasia dançar
Em passos embebidos de promessas sem sabor
Que se espalham na mesa de jantar
Como gotas de um destino esvoaçante.

Casa?
Para crer, falta-me fé…
Não sei se foi ou se é.
Nem sei se chegaram a ser minhas
Estas paredes que o tempo arrasa.
Estas paredes são como a maré:


Ora enche, ora vaza…

Que caia cada telha,
Cada prego que a mentira sustém.
Que se marque no chão cada passo
Que, uma vez dado,
Já a ninguém convém.

Não quero que me descrevam
Cada canto do quarto de brincar,
A boneca de porcelana no chão,
O comboio sem carris para andar.
Parem! Não!


Não me falem mais de mim…

Que não se oiça o vento,
(Estou a pedir…)
Que se cale o murmúrio das portadas!
Já ninguém deve ouvir
Os martírios das vozes silenciadas.

Que morram essas vozes sussurrantes
Que não se fazem esquecer;
Que se atrevem a relembrar
O que jamais irei ver…
Malditas migalhas de passados pedantes!

Esta casa tem segredos.
Segredos debaixo do soalho,
Atrás dos armários, no baú do sótão…
Segredos vigiados através dos cortinados;
Segredos em que já não posso crer;
Segredos dissimulados de sonhos,
Os alicerces que já não me suportam.

Mas, então,
E talvez em vão,
Perde-se o regresso
Algures entre as malhas
De um casaco descorado,
Pelas rugas do sol vincado,
Queimado de gestos, rostos e falhas.

 Ilusão

Casa é o silêncio que repousa na varanda,
Que se estende ao Sol de Inverno
Embalado pela sombra que envelhece,
E que, sob a chuva quente, anda,
Por fim, adormece.

Casa é sabor a terra molhada,
Ao fim de uma tarde de Verão;
Colheres de compota doce,
Figos comidos à mão…
A infantil inconsciência do nada
E a sabedoria de uma alma cansada
Com a certeza de que nada foi em vão.

Casa é recordar o passado,
Viver como se ainda existisses;
Sonhar um pouco…
Mas não demasiado!
Pois o sonho morre e arrasta a alma
E, mesmo para quem já nada tem,
É um preço deveras pesado.

Casa são todas as estrelas que me olham,
Despertas em cada noite à lua vendida,
E me chamam para longe,
Para reviver tudo o que já escrevi
E ser a mesma que aqui anda perdida.

À minha casa chamo mar.
São todos os caminhos incertos
Por onde as lágrimas se fazem deslizar,
Gotas que se desenrolam pela face
E culminam num fogo incapaz de queimar.



 

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