Mariana Catarina Marques, aluna do 12º ano da Escola Secundária
Dr. Joaquim de Carvalho foi distinguida com o 1º e 2º prémios, na modalidade Poesia,
na 22ª edição do Prémio Literário
Cristina Torres.
Este ano, as composições poéticas tinham como tema "A casa". Com os poemas "Saudade" e "Ilusão", revelou-se uma vez mais o talento desta promissora poetisa, que já tinha sido premiado em edições
anteriores, (em 2009 e em 2012).
Os nossos parabéns à Mariana!
Saudade
Perde-se
o tempo no regresso,
Na
procura de algo,
De
um pouco mais de nada.
Que
voltem, (eu peço…)
Esses
pedaços de alma desfigurada.
Matem
este silêncio!
(Peço-vos, por favor…)
Que
se enforque o violino distante
Com
quem a luz fantasia dançar
Em
passos embebidos de promessas sem sabor
Que
se espalham na mesa de jantar
Como
gotas de um destino esvoaçante.
Casa?
Para
crer, falta-me fé…
Não
sei se foi ou se é.
Nem
sei se chegaram a ser minhas
Estas
paredes que o tempo arrasa.
Estas
paredes são como a maré:
Ora enche, ora vaza…
Que
caia cada telha,
Cada
prego que a mentira sustém.
Que
se marque no chão cada passo
Que,
uma vez dado,
Já
a ninguém convém.
Não
quero que me descrevam
Cada
canto do quarto de brincar,
A
boneca de porcelana no chão,
O
comboio sem carris para andar.
Parem!
Não!
Não me falem mais de mim…
Que
não se oiça o vento,
(Estou
a pedir…)
Que
se cale o murmúrio das portadas!
Já
ninguém deve ouvir
Os
martírios das vozes silenciadas.
Que
morram essas vozes sussurrantes
Que
não se fazem esquecer;
Que
se atrevem a relembrar
O
que jamais irei ver…
Malditas
migalhas de passados pedantes!
Esta
casa tem segredos.
Segredos
debaixo do soalho,
Atrás
dos armários, no baú do sótão…
Segredos
vigiados através dos cortinados;
Segredos
em que já não posso crer;
Segredos
dissimulados de sonhos,
Os
alicerces que já não me suportam.
Mas,
então,
E
talvez em vão,
Perde-se
o regresso
Algures
entre as malhas
De
um casaco descorado,
Pelas
rugas do sol vincado,
Queimado
de gestos, rostos e falhas.
Ilusão
Casa
é o silêncio que repousa na varanda,
Que
se estende ao Sol de Inverno
Embalado
pela sombra que envelhece,
E
que, sob a chuva quente, anda,
Por
fim, adormece.
Casa
é sabor a terra molhada,
Ao
fim de uma tarde de Verão;
Colheres
de compota doce,
Figos
comidos à mão…
A
infantil inconsciência do nada
E
a sabedoria de uma alma cansada
Com
a certeza de que nada foi em vão.
Casa
é recordar o passado,
Viver
como se ainda existisses;
Sonhar um pouco…
Sonhar um pouco…
Mas
não demasiado!
Pois o sonho morre e arrasta a alma
Pois o sonho morre e arrasta a alma
E,
mesmo para quem já nada tem,
É
um preço deveras pesado.
Casa
são todas as estrelas que me olham,
Despertas
em cada noite à lua vendida,
E
me chamam para longe,
Para
reviver tudo o que já escrevi
E
ser a mesma que aqui anda perdida.
À
minha casa chamo mar.
São
todos os caminhos incertos
Por
onde as lágrimas se fazem deslizar,
Gotas
que se desenrolam pela face
E
culminam num fogo incapaz de queimar.
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