Aquando da
passagem pela nossa escola do elenco da peça de Hugo Barreiros “As Muralhas de
Elsinore”, que foi levada à cena no dia 26 de outubro, no CAE, o Clube de
Jornalismo entrevistou os promissores atores Rodrigo Trindade, Cláudia Barbosa,
Marco Mendonça, que explicaram a sua paixão pela arte de representar e
incentivaram os alunos presentes a seguir os seus sonhos.
Aqui ficam
alguns registos desse momento.
Sinal: Quando começou a sentir interesse pela área do teatro?
Rodrigo: “Quando estava no meu 3º, 4º ano, fiz uma peça muito
pequena para a escola. Depois fiquei muito tempo sem representar até chegar ao
9º, altura em que tive que pensar no que ia seguir. Lembrei-me dessa peça que
tinha feito e decidi integrar um grupo de teatro amador.”
Cláudia: “Desde miúda que fazia aquelas “palhaçadas” para a
família. Depois fui começando a perceber que, quando tinha expressão dramática,
era o que gostava mais. Estive um ano em Artes e depois tirei um curso de
teatro de duas semanas. Aquilo foi tão forte que concorri a uma escola de
teatro.”
Marco: “Desde 1979, ainda
não era nascido! (risos) Concluí o 12º ano em Artes Visuais e cheguei a casa,
olhei-me no espelho e perguntei: O que vou fazer? Candidatei-me à Escola Superior
de Teatro e Cinema. É uma universidade e é preciso fazer provas de ingresso.
Entrei, passei nas provas. Surpreendi-me a mim mesmo e entretanto conheci o
Rodrigo. Comecei a fazer teatro em 2013, sou um novato nesta área. Estou a
gostar bastante.”
Sinal: Dos papéis que já representou, houve algum mais marcante? Quer
explicar porquê?
Rodrigo: “Fiz a personagem Hamlet na escola de teatro que me marcou
muito. No Hamlet tive um blackout e desmaiei…
As personagens marcam-nos muito.”
Cláudia: “Quando acabei a escola de teatro, na PAP (Prova de
Aptidão Profissional), fiz a personagem de uma ex-prostituta. Estava um
hospício, rodeada de grades e as pessoas que eram rejeitadas iam todas para lá.
Eu era cantora, fazia parte do grupo dos 4 cantores. Agarrei-me muito aquela
personagem. A peça tinha muito a ver com aquilo que estamos a viver hoje, vemos
as coisas a acontecer e não fazemos nada.”
Marco: “A personagem que mais me marcou é… esta em que estou a
trabalhar agora, o Francisco. Nunca me imaginaria capaz de a fazer, pelo menos
tão cedo. Identifico-me bastante com ela, é uma personagem “ser ou não ser”. Na
minha vida, já me identifiquei com a solidão.”
Sinal: O que considera mais apaixonante na profissão de ator? E o mais
problemático?
Rodrigo: “O mais apaixonante é… tudo. Gosto do nervosismo, do
aperto no coração antes de entrar em palco. Estamos sempre nervosos e gostamos
disso. O mais problemático é o medo de errar, de falhar, de ter críticas
negativas no final da peça. O problemático a sério nesta profissão é estar a
gravar, a fazer a peça e no fim ficarmos sem trabalho. A questão monetária, o
estar sem trabalho, é o mais problemático para um ator. Nesta área, há o medo
de ser esquecido.”
Cláudia: “Concordo com o Rodrigo.”
Marco: “O bom do teatro é fazer teatro. O teatro não se faz sem
fazer. O nervosismo é maravilhoso, compensa bastante chegar ao fim e reconhecer
que fizemos um bom trabalho. O pior é mesmo a instabilidade da nossa profissão.
O nervosismo do palco é ampliado para o nervosismo de não ter trabalho.”
Sinal: Quais são as características mais importantes que um ator deve
possuir?
Rodrigo: “O ator tem de ter uma
coisa essencial, a sensibilidade. É preciso ter uma boa voz, aprender a
colocá-la. Também é necessário ter muita flexibilidade, aprendermos a moldar o
nosso corpo a todas as personagens, novas, velhas… Um ator também tem de ter
técnica. Por exemplo, para chorar, cada um tem a sua técnica. Há ainda a técnica
de andar em palco. E é preciso línguas, sobretudo o inglês.
Cláudia: ”Vocês podem ser os
melhores atores do mundo, mas se não
tiverem uma coisa que se chama humildade, esqueçam!”
Sinal: Quais as principais diferenças entre o teatro e a televisão?
Rodrigo: “No teatro tens de projetar a voz e a nível corporal tens
de ser mais expansivo. Na televisão é mais natural, decoras texto todos os
dias. Há menos carga emocional na televisão. Nas novelas, não gravamos pela
sequência. Podemos começar por gravar episódios do meio ou do fim e só depois
cenas do início.”
Cláudia: ”Na televisão há cortes. Teatro e televisão são coisas tão
diferentes que não consigo dizer quais as diferenças.”
Sinal: Indique as razões pelas quais não devemos perder, de modo algum,
a peça “Muralhas de Elsinore”?
Rodrigo: “É baseada no Hamlet,
é muito divertida. Vão pensar, rir e até, talvez, chorar.
Cláudia: “As emoções que queremos transmitir são muitas. O
importante é pensarem. A peça tem uma mensagem muito forte.”
Sinal: Quer deixar uma mensagem para os leitores do Sinal?
Rodrigo: ”Ambição com humildade.”
Cláudia: “Hoje estamos aqui, e amanhã quem sabe?”
Marco: ” Vamos tentar dar sem nos
lembrarmos e receber sem nunca nos esquecermos.”